Pages

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Alunos se movimentam pela legitimação do Centro Acadêmico de comunicação do IESB

Por Pree Leonel

Após um ano de movimentação estudantil, os alunos de comunicação do Instituto Superior de Educação de Brasília (IESB) estão prontos para a formalização do seu Centro Acadêmico (C.A.). No dia 14 do último mês, a comissão voluntária pró C.A. de comunicação reuniu mais de 90 alunos na Assembléia Estatutária que aprovou o regulamento do CACIC, o Centro Acadêmico das Ciências da Comunicação.

Esta não é a primeira tentativa estudantil para a consolidação de um C.A. de comunicação na Instituição, no entanto. De acordo com Danilo Silvestre, ex-estudante do IESB e recém formado pela UNB, os alunos de comunicação do IESB criaram seu primeiro C.A. entre 2002 e 2003, sendo que sua gestão não pôde ser levada para frente, tampouco sua existência foi formalizada.

Ainda segundo Silvestre, estudantes militantes da Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social (ENECOS) tentaram reativar o C.A. de comunicação do IESB entre 2004 e 2005. “Este C.A. foi importante na mobilização contra o aumento das mensalidades, por exemplo. Aulas do IESB foram paralisadas por um dia. Graças a estudantes do movimento estudantil do IESB, hoje as faculdades não podem cobrar pela emissão do diploma também”.

A tentativa de reativar o C.A de comunicação, no entanto, não obteve força estudantil por muito tempo. Segundo o ex-aluno da instituição, muitos estudantes tinham medo de serem reprimidos. “Não eram poucos os que diziam não participar para não correrem riscos de serem expulsos da Instituição”, lembra o ex-estudante do IESB.

Além do medo, que tem presença marcada no histórico da movimentação estudantil do país, existe ainda a falta de interesse por parte dos alunos das instituições. Hoje o IESB possui, por exemplo, um Diretório Central Estudantil (DCE) fantasma. Fantasma porque foi criado em 2006, mas acabou por, também, perder sua força e legitimidade nos anos seqüenciais.

Devido a pouca participação dos alunos, a falta de divulgação da existência do mesmo e as demandas partidárias trazidas por um de seus últimos presidentes – gerando atritos com a direção da Instituição –, o que sobrou do DCE do IESB se traduz em um documento registrado em cartório e uma sala de atuação estudantil, emprestada pela Instituição, trancada e vazia.

De acordo com Danilo Soares, estudante de Jornalismo da Instituição e indicado para a Coordenadoria-Geral de uma das chapas em formação para a direção do CACIC, “o DCE do IESB foi abandonado porque não existiu nenhum processo de formação legítimo acerca dele. Não se cria um movimento estudantil sem diálogo mínimo com os estudantes que compõem a instituição – instituição esta composta de estudantes cujo perfil, hoje, ainda não se destaca em interesse quanto à participação estudantil”.

Há unanimidade de que um dos maiores problemas enfrentados pelos alunos comprometidos com a força estudantil parece mesmo ser o desinteresse dos demais estudantes. De acordo com o advogado Ariel Foina, referência na defesa e incentivo das movimentações estudantis apartidárias em Brasília, os alunos do ensino superior (tanto em instituições públicas, quanto em privadas) vêm perdendo a perspectiva de que, como estudantes, não são apenas estudantes, mas os fiscais mais próximos que a sociedade possui no que tange ao ensino superior.

Ainda conforme o advogado, “a educação é um serviço público, um dever do Estado e é prestado à sociedade por instituições. Os estudantes, como alunos, são parte do processo de ensino, mas, como sociedade, têm o dever de fiscalizar o produto deste serviço e a forma como ele é prestado, se tem qualidade e se possui parâmetros de interesse de toda a Sociedade”.

Ariel insiste na ideia de que a ausência da percepção deste dever de fiscalização acaba reduzindo o papel e o interesse do estudante às suas obrigações primárias, como freqüentar a aula e tirar boas notas.

Mesmo diante do quadro, ainda existe, no IESB, cabeças que garantem as faíscas que chamam, de forma crescente, maior número de estudantes para a responsabilidade. Mesmo aqueles que não participarão da formação das chapas para a atuação do CACIC começam a reconhecer a importância da formação dos C.A.s na Instituição.

Exemplo disso é a estudante de Relações Internacionais, Isabela Mota, que já ganhou um C.A. para o seu curso, criado pelo militante do Partido Democrático Trabalhista (PDT) André Dutra. Ela também espera maior mobilização dos alunos de seu curso e acredita que a não existência dos C.A.s garante pouca força de voz aos estudantes em suas próprias instituições de ensino, “o que pode caracterizar até certo totalitarismo”, destaca. “Um diretório estudantil ou a criação dos C.A.s garante todas as formas de expressão dos estudantes”, completa a estudante.

Não apenas os estudantes do IESB acreditam na necessidade de maior participação estudantil, mas também alunos de outras instituições e universidades, como os alunos e coordenadores dos centros acadêmicos da Universidade de Brasília (UNB), da Católica e do Centro Universitário de Brasília (UNICEUB), que tem colaborado e apoiado de diversas formas os envolvidos na formação do CACIC no IESB sul.

Milena de Castro, recém formada em publicidade pela UNB, acredita ser de extrema importância o ponto de partida encontrado pelos estudantes de comunicação do IESB e das demais instituições de ensino. De acordo com a recém graduada, “os C.A.s devem representar as opiniões dos alunos perante a reitoria ou perante o DCE. Lamento que os CA's mais influentes e ativos, assim como o DCE da UNB – e esse de maneira mais explícita –, sejam apoiados por partidos políticos, no entanto”.

A preocupação de Milena em relação ao partidarismo injetado nos Diretórios Estudantis e Centros Acadêmicos tem fundamento. De acordo com o advogado Ariel Foina, “o movimento estudantil está com sua imagem desgastada pelo mau uso que os partidos políticos tem feito dele, especialmente nas instituições públicas, vinculando-o equivocadamente a ideologias politiqueiras”.

Tendo sofrido uma grande transformação nas últimas décadas, a movimentação estudantil, se antes era pautada por questões políticas, atualmente, especialmente nas instituições particulares, deve ser pautada pelo controle social sobre a atividade de ensino, acredita Ariel. “Neste ponto, creio ser a única barreira possível a um processo de sucateamento da formação superior no Brasil. Aos que ignoram a importância do movimento estudantil, nos cabe perguntar se queremos formação ou formatura e saber se esta resposta irá de acordo com o bem comum de toda a sociedade ou com interesses individuais e imediatistas”.


O CACIC

O Centro Acadêmico das Ciências da Comunicação do IESB aguarda, agora, a eleição da chapa que o representará. As inscrições estarão abertas até o dia 14 de maio e deverão ser feitas por e-mail ou através da mesa eleitoral, composta por alunos voluntários que não concorrerão nas eleições, em stand montado no pátio central do IESB.

Até o momento, apenas uma chapa está inscrita. Há certa preocupação dos próprios componentes dela de que não haja concorrência. Para fermentar a mobilização de mais alunos, os responsáveis pela mesa eleitoral e voluntários estarão, de sala em sala, chamando os estudantes para a participação.

Meios particulares também serão utilizados para que a empreitada seja amplamente divulgada, traduzidos na confecção, impressão e distribuição de cartazes e panfletos na instituição. “Só não saberá quem não se interessar”, garante o estudante de publicidade e voluntário Lucas Montandon.

Dividido de forma a evitar centralizações, o CACIC contará com cinco coordenações: a Geral; Financeira; de Comunicação; de Cultura e Esportes e a Política. As chapas deverão ser compostas por, no mínimo, sete alunos de Comunicação e por, no máximo, vinte estudantes.

Os organizadores aguardam as eleições, que acontecerão do dia 26 a 28 de maio, na expectativa de que este seja um passo mais sólido do que os já oferecidos dentro da instituição. Acima de tudo, de acordo com Ariel Foina, de que este seja um centro acadêmico que funcione não apenas como um ponto de referência cultural e acadêmico, mas que também seja um meio definitivo para que os estudantes avaliem e opinem quanto à qualidade e diretrizes oferecidas aos seus cursos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário